Ser-se turista é, sem dúvida, agradável. Mas, às vezes, até mesmo no país mais distante, uma pessoa tem vontade de se sentir um «local». As aventuras fora dos roteiros turísticos e os restaurantes secretos ajudam, sem dúvida, para que isso aconteça. Mas não há nada melhor do que ver um rosto conhecido.
Hoje trazemos até si não apenas o rosto, mas também a voz, e talvez até o mais encantador sorriso de Lisboa.
Autor: Alla Bogolepova. Tradução: Dina Paulista
A Adega Machado é uma casa de fados com uma longa história e o facto de o seu segundo nascimento não se ter transformado numa tentativa com cheiro a naftalina para reviver a antiga atmosfera é, em grande parte, mérito de Marco Rodrigues. Foi ele, como diretor artístico da Adega que criou um refrescante misto musical que junta o fado clássico com o seu estilo pessoal único.
Quando ouvimos o Marco a cantar somos levados por momentos a acreditar que ali, ao pé de nós, estão grandes fadistas do passado: o irónico Max, o filósofo Alfredo Marceneiro, o saudoso Fernando Maurício… A propósito, todos eles cantaram na lendária casa de fados Luso, onde o próprio Marco começou a sua carreira há 15 anos. E assim, se a música tivesse genes, poderíamos dizer que Marco Rodrigues herdou os melhores. E, fazendo passar todo esse grande património pelo prisma do seu próprio talento, ele criou um som basicamente novo. Talvez o adjetivo que melhor o descreva seja «jovem». Sendo Marco um fadista absoluto na escola e na alma, ele leva para o fado tradicional muitos outros estilos musicais. Não se trata aqui de nenhuma revolução, mas antes de uma evolução, do seguimento da alma no tempo e da capacidade de antever as mudanças futuras da vida.
Tradicionalmente, a viola clássica faz o acompanhamento no Fado. A solista é, via de regra, a guitarra portuguesa, enquanto a viola clássica consolida e decora a tela musical. Marco Rodrigues, como um virtuoso da guitarra clássica que é, alterou essa regra. Tornando a viola, no mínimo, de importância igual à da guitarra portuguesa, ele criou uma estilo muito particular de guitarrada, que pode ser ouvida apenas na Adega Machado e apenas quando ele toca.
De um modo geral, a composição musical da Adega Machado é uma das mais fortes de Lisboa. No entanto, mesmo as pessoas longe do fado tentam normalmente assistir às interpretações do Marco Rodrigues. E a questão nem sequer está no seu carisma pessoal, na sua capacidade de se comunicar com o público ou na sua entrega total todas as noites. A razão pela qual o Marco é a melhor opção para alguém se iniciar no fado é o facto de que, quando ele canta, conseguir ser entendido até mesmo por aqueles que não entendem uma única palavra de português.
O Marco não gosta de ser chamado de «estrela». No show business isso soa sempre a «vedetismo» e o fado é diferente. Graças a músicos como Marco Rodrigues, a música única de Portugal vai-se integrando gradualmente na indústria da música mundial. Ela não se dissolve, não se unifica e não se transforma em estampa padronizada, mesmo que talentosa, como acontece com muitos músicos, grupos e estilos musicais, mil vezes mastigado e digeridos pelas gigantes da indústria musical. O fado continua a ser único porque o seu núcleo e força motriz — sim, parece incrivelmente simples! – é a alma e o coração do fadista.
Марко Родригеш. Tantas Lisboa